terça-feira, 2 de novembro de 2010

Crónica do Coração #2

Há amores que nunca se esquecem e não há maneira de desmentir tal facto. Mas também há amores que nunca acabam. E desses até agora só conheci um. Correndo o risco de ser peganhenta e foleira que dá dó, tenho de dizer que esse é a amizade. As grandes amizades, aquelas que não precisam do telefonema a relatar a ementa do almoço, essas são do caraças. Agora com o Facebook, também é fácil saber quando é que o colega de faculdade comprou um iphone e o que aconteceu naquelas férias inesqueciveis nas Caraíbas.
As amigas, essas que gostam do relato diário, podiam deixar de ligar tanto se eu alinhasse no status actualizado ao estilo Big Brother. Mas eu não faço questão que a Ana Maria do Liceu saiba em directo como correu o último jantar à luz das velas ou se acordei deprimida. Uma coisa é certa e quando assim é, é preciso dar a mão à palmatória. O Facebook trouxe-me uma coisa espectacular, é que agora dou muito mais vezes os Parabéns no dia certo. Aliás, dou muito mais vezes os Parabéns.
E por isso, é que a Amizade com "A" grande, é do caraças. Quem tem a sorte de ter amigos de infância ou ainda mais sorte em ter feito amigos verdadeiros já mais entradote - que é bem mais difícil - não os devia trocar por nada. Aqueles que fazem questão de chafurdar colectivamente na desgraça, quando se está mais triste. Ou que vibram com o sucesso alheio "O quê conseguiste um emprego já? Boa, fico mesmo feliz. Agora não te esqueças de mim. Tenho a renda em atraso e a senhoria não pára de ligar. Porra que a velha já nem com favores sexuais vai lá". Isto é que é. Não há egoísmo que alimente amizade, essa é que é essa.
O que me faz sempre lembrar o lema (que se diz nas clínicas de desentoxicação, vi num filme e ficou gravado), "se achas que estás preparado para uma relação, tenta manter uma planta viva por mais de um ano. Depois disso escolhe um animal doméstico e tenta mantê-lo durante um ano também. E depois talvez estejas pronto para em relação." Faz algum sentido, no primeiro ano de ressaca emocional, tal como a planta, regamo-nos de líquidos, álcool precisamente. Depois sim começamos a aceitar um biscoito aqui e ali e a deixar que nos passeiem.
Sempre vi este "lema" como extensível a todo o tipo de relação, não só à destruição por vícios químicos. Há um paralelismo com o egoísmo e a solidão extrema. No man is an island, por isso toca de cuidar do que vale a pena.



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