Eu não tenho um bom acordar. Sei disto porque já me disseram algumas vezes. Não gosto muito de falar de manhã, nem comigo própria. Declaro morte cerebral na primeira hora e normalmente só ressuscito ao primeiro café, ou depois do pequeno almoço. No entanto percebi que pode haver outra maneira de dar a volta, se me acordarem com uma catrefada de elogios e alternar com miminhos. Elogios-Miminhos-Elogios-Miminhos-Elogios-Miminhos. Por uns 20min. Continuo a precisar do café, mas depois deste exercício já consigo pelo menos grunhir. A verdade é que isto não aconteceu assim tantas vezes, mas acredito que um dia vai fazer parte da minha rotina.
Uma vez perguntaram-me se sabia porque é que isto acontecia. Uma vez respondi que não gostava de ser retirada abruptamente dos meus sonhos. É cruel. Existe a remota possibilidade de não lidar bem com a realidade. Sim, existe. É um bocadinho o efeito Alice. Com uma dose moderada do real aqui e ali, o mundo fica muito mais interessante. O contrário não tem piada nenhuma.
E isto de repente pode tornar-se um post sério. É que ontem estive com uma amiga, com quem já não estava há algum tempo, que é polaca e viveu em Londres muitos anos e que me disse umas quantas coisas. A mãe dela acredita em out-of-body experiences. Pois. E esta minha amiga como polaca que se preze, pragmática como manda a lei, mas com um sentido de humor invejável, descreveu-me um telefonema com a mãe. Ligou-lhe do nada e disse "You have to have an out-of-body experience". Ela respondeu "C'mon mum, what the fuck is that? It's me, I don't like that Guru shit". E continuaram a falar por mais algum tempo, afinal de contas são mulheres ao telefone, mas o resto já não interessa. O que ela conta (fiquei indecisa entre esta e "reza a lenda", mas vá) tirou dai, foi a possibilidade de aplicar a sua versão de out-of-body experience, numa situação que a estava a incomodar na altura. Disse-me, em inglês, mas escrevo em português agora, "sempre que me sinto às voltas e voltas e parece que não saio do mesmo sítio, tento sair de mim (not in a Guru way) e pensar o que faria se não estivesse dentro da gaiola." Seguido de "Oh shit, I just had a Guru-eureka-kind-of-shit. Shoot me, shoot me now." Ela é engraçada. Enquanto dizia isto gesticulava e imitava na perfeição a cena da casa de banho do Psycho. Não sendo uma novidade para a maior parte de vós, não é tão fácil como parece porque há sempre o Lado Negro da Força que nos puxa para remoer e remoer. Mesmo assim é um exercício que recomendo vivamente.
Por exemplo, sempre que venho para o escritório - que não gosto - tento pensar que trabalho num atelier e que somos todos artistas e as conversas são tão interessantes que chega a ser absurdo. Ah e que o café é grátis. Porque já nem isso é.
Sem comentários:
Enviar um comentário