quarta-feira, 27 de outubro de 2010

FAIL infelizmente

Apercebi-me hoje que sou fiadora de uma data de coisas. E que se tivesse mesmo de pagar pelo menos 2 delas, não estaria muito diferente do rapaz que ontem me pediu uns trocos.
Depois da aula, encontrei por acaso umas amigas minhas sentadinhas num banco ali para os lados do Chiado. Estava eu a descrever a minha segunda aula de pintura (abre à parte - com as mesmas peripécias que o fiz aqui no blog, mas ao vivo a coisa pega melhor e por momentos vi-me num palco - fecha à parte) e aproxima-se o moço que diz prontamente "Não façam cara séria, por favor". Foi extremamente dificil, eu estava na parte de quando fui buscar o cavalete e que não sabia distingui-los e quase tropecei e depois não havia curso de Arquitectura que me salvasse. E elas a rirem-se (talvez por simpatia). Àquela hora já estava tão cansada que em vez de cavalates saiu-me candelabros. O que me fez sentir um tanto ao quanto culpada por estar com vontade de rir, quando ele se aproximou. No entanto - por respeitar a situação que apesar de ainda não ter sido exposta, iria sê-lo muito em breve - contive-me.
Pois então o rapaz era seropositivo, já tinha deixado a cocaína e a heroína e agora era só mesmo metadona 100mg, como fez questão de apontar. Era um toxicodepente normal, rosadinho e magro que dói. Contou a sua história e às tantas saiu-se com uma que nos deixou um bocado sem jeito (por momentos). "Posso ter lixado grande parte da minha vida já. O meu pai expulsou-me de casa e magoei todos os meus amigos. Mas ainda tenho muita vontade de viver. Acreditem que é verdade." Oh pá, isto podia ter sido um momento tão bonito.
Mas, ele fez questão de rematar "Eu prefiro matar um traficante a uma pessoa normal". Wtf? - pensei e devo ter feito uma cara a condizer, certamente. Nínguem disse nada, mas ele continuou "Mas é para vos mostrar a minha vontade genuína. Para verem como mudei". Não duvido nem quero ser má, mas o erro de timing juntou-se ao infeliz exemplo e para desfazer a cara a condizer foi complicado. Ele há coisas.
Sim, ele acabou por levar umas moedas. "Para comer" disse. O meu lado ingénuo quer acreditar que sim.

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