quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

don't you, forget about me

Estava mesmo agora a escrever um briefing porque trabalho numa agência de publicidade e é isso que nós os accounts *vómitos incontroláveis* fazemos. Isso e forward de e-mails. Em dias especiais chamamos estafetas ou nem isso, mandamos a recepcionista chamar e só escrevemos o nome do remetente e destinatário. O que me lembra os tempos de escola e as cartas para os amigos nas férias grandes. É infantil, mas é a defesa do meu inconsciente para aguentar o dia-a-dia num escritório como todos os outros.
Posto isto, interrompi o meu dever porque senti uma súbita necessidade de escrever, sobre pintura. Por esta altura já é mais do que óbvio que essa é de facto a minha paixão, a minha joie de vivre (nota: agora que me ando a armar que posso fazer disto vida, é imprescindivel usar este tipo de expressões arrogantes e pretenciosas, comprar uma boina e falar ainda mais com as mãos). E dá trabalho, muito. Ainda mais quando durante o dia tenho de fingir que gosto do que faço. E isso é desgastante. Um óptimo exercício de representação e de certa forma criativo, mas desgastante. Alguns sabem disto, infelizmente. Ou então, vendo o copo meio cheio até gosto, porque me permite pagar a renda e as quantidades exorbitantes de putas e vinho verde de que necessito diariamente. Se calhar putas não. Mas não consigo dizer vinho verde sem dizer putas. E a verdade é que eu nem bebo assim tanto vinho verde. Err.
Dá-me umas ganas de agarrar nos pincéis e não deixar fugir a inspiração do momento. Quem acha que percebe alguma coisa de inspiração, como eu, pensa que é volátil e efémera. Por isso é preciso agarrar a gaja logo. Se calhar com treino, a segurança cresce e este estado de alerta acalma. Tem de acalmar. Não me quero tornar obcecada com a minha expressão (reminder: utilizar palavras pretenciosas e frases semi-profundas). Com tintas a sair dos bolsos e pincéis cravados no cabelo. Nem tenho cabelo para isso. Até porque sei que se tiver tintas comigo não resisto e mesmo sabendo que as pessoas desculpam os malucos, não queria fomentar os vipes e começar a pintar a casa de banho ou rasgar as revistas da sala de espera do dentista.
Como agora não posso pintar, sinto-me ligeiramente aliviada em falar nisso. Como se este miminho fizesse pintura gostar mais de mim e não me esquecesse pelo menos até logo à noite.

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