sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Era uma vez...

Sinto que preciso de ser honesta com vossas mercês. Como tal, aqui vai uma pequena história.
Foi nos braços das mãos erradas que a Jessica nasceu. Todas nós conhecemos aquele módulo terrível da espécie humana que são os cabrões. Há uns bons anos atrás deparei-me com uma coisinha dessas e achei por bem curar o seu rasto com quantidades pornográficas de álcool. E isto de ser dependente de álcool aos 19 anos é dificil. Não há dinheiro disponível para beber do bom, por isso bebe-se do mais ou menos a.k.a. martelado.
Noites e noites de afirmação do controle feminino deram lugar a relações estáveis e a confusões intermináveis. A Peggy Sue* despertou para o lado soft da vida e conheceu homens extraordinários, de uma dedicação extremosa. A calma das noites, a conchinha das manhãs e os olhares confortáveis.
O problema da Peggy Sue foi ter uma Jessica à espreita. A Jessica tem a mania de extravasar e partir para o desconhecido e ano após ano vai pagando a conta das decisões. As Jessicas que passam por isto sabem dos calos que ficam. E as Jessicas a sério não deixam apagar o sonho de quem tudo faz por elas. Levantam-se com a certeza de que esse dia está perto.
O que a Jessica se lembra da Peggy Sue é da paz e da segurança de ter sexo quando bem entendia. Mas não é aquele tipo fugaz do passeio da vergonha do dia a seguir. A andar pelo Chiado de maquilhagem com cheiro a tabaco e saltos altos, quando é dia de fato treino e comer gelados com o marido. Não, não. É daquelas noites de amor. Mas amor mesmo. Das princesas.
Agora a Jessica sabe que vai mudar o apelido para Sue, quando for altura disso. Sabe que já não é uma miúda, já não quer o vazio. Sabe que não deixa de ser quem é por ninguém. Que ser aventureira não é sinal de ser fria nem descomprometida.
Porque afinal de contas, uma lady na mesa uma louca na cama não é só uma coisa que se diz. É do que é feita uma mulher a sério. E quando se é mulher, sonha-se com o dia de ter a certeza de si própria de manhã à noite. E hoje parece-me um óptimo dia para começar essa jornada.


*Entenda-se o conceito de Peggy Sue como a menina bem comportada que tem a tarte de maçã preparada quando o mais que tudo chega a casa.


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